DANCEMOS NO MUNDO


Isto é como tudo...
Não há-de ser nada!



Desemprego/Crise, Crise/Desemprego, Desemprego/Crise, Crise/Desemprego.
Qualquer semelhança com o Jornal das 8 da SIC NÃO é pura coincidência.
É verdade que tenho o tal de “zapping” sempre ao meu dispor, mas eu cumpro por defeito o velho ditado: “o hábito faz o monge”, e por isso desde que me é permitido optar em horário nobre pelas notícias na televisão que tenho “queda” para a SIC. Consequência natural de quem detesta as notícias "pelintras" de determinado canal “novelístico” e as do outro que sem prova – é certo, embora pense poder ser sempre susceptível de ser instrumentalizado -, pouco mais são do que cinzentas, às vezes claras, outras vezes, escuras. Velhos costumes não se perdem de um dia para o outro. Por isso a minha teimosia.
Só o heroísmo me leva todos os dias às oito da noite a ligar o canal três, e a ouvir as palavras mais repetidas dos últimos tempos com uma insistência feroz. Contei-as – se sou louco e teimoso para não mudar, também sou bem capaz de o fazer, - nos últimos quinze dias ouvi os “pivot’s” do dito jornal dizer a palavra “desemprego” 238 vezes, a palavra “crise” 174 vezes. É um absurdo, bem sei, já não tanto a crise que leva ao desemprego, mas acima de tudo o emprego sem limite de tais palavras, como se a língua portuguesa estivesse também ela a atravessar tamanha crise de identidade. Demita-se já!
A malta sabe que a situação mundial não está de feição: a crise e o desemprego alastram.
Agora falemos de Portugal: a crise e o desemprego não param.
E de economia: a crise não trava o desemprego.
E até no desporto: nunca o sindicato dos jogadores foi tantas vezes notícia devido à crise financeira dos clubes que sempre estiveram em crise, e ao desemprego que também agora decidiu bater à porta daqueles que prematuramente deixaram de querer estudar para se dedicarem aos pontapés na bola.
A Crise e o Desemprego. Mas que grande “charutada”!
Nunca, como hoje, se viu tantos espectáculos – mais que um por dia – esgotados nas mais variadíssimas salas e aldeias de Portugal. Mas a Crise existe e o Desemprego também. Nunca, como hoje, se viu tantas casas portuguesas com dois televisores – algumas com três ou quatro – ligados ao mesmo tempo para que todos os membros da família vejam apenas o que bem querem. Nunca, como hoje, se viu psp’s nas mãos de “putos” que mal sabem escrever, telemóveis encostados ao ouvido daqueles que ainda não conseguem balbuciar duas palavras seguidas, “magalhães” nas mãos de quem nunca antes escreveu duas sílabas da mesma palavra sem dar erro, “ipod’s” presos ao pescoço de quem nunca aprendeu de cor uma cantiga de roda…
A Crise e o Desemprego, temas promovidos pela televisão que nos entra em casa à hora da janta, está prestes a levar-nos ao psicólogo ainda antes de sentirmos realmente as suas consequências. É que com tamanha insistência, estou em crer que por estes dias já nos deitamos e acordamos a pensar, não nas coisas boas que a cama nos possa dar, mas em ambas as ditas. Tenho quase a certeza que agora mesmo existe por aí um barbudo qualquer que está a viver uma fantasia sexual com a “Crise” e outro alguém que anda a trair o marido com o “Desemprego”.
Podia agora cantar como o Sérgio Godinho: “Cuidado Casimiro, Cuidado Casimiro, Cuidado com as imitações”, mas não vale a pena. Logo à noite tenho a certeza que me voltam a encher a casa com a Crise e o Desemprego outra vez, – bolas! Quando é que joga o Sporting? – e eu, como bom português, masoquista porque sim, lá estarei para atender com bons modos quem me entra pela casa precisamente naquela hora em que me sento à mesa.
Por estes dias, uma palavra “camone”, - freeport -, está a tentar ganhar uns pontitos. Se não nos pomos a pau ainda nos bate à porta uma noite destas o “homem do fraque” para devolvermos tudo o que comprámos por lá a baixo preço nestes anos mais recentes.
Chiça!