"DAR O SALTO" PARA O PARAÍSO



Metade da humanidade não sabe como outra metade vive.




Morreram mais uns tantos ao largo das Canárias por tentarem “dar o salto” clandestinamente para o Velho Continente.
Nos tempos que correm, esta é por ventura daquelas notícias, embora já não seja novidade para ninguém, de deixar perplexos alguns europeus mais distraídos.
«Mas que faz com que dezenas e dezenas de africanos sistematicamente arrisquem tudo o que têm e até o que não têm para “dar o salto” para este lado do Mundo que não tem hoje em dia lugar para onde se virar?»
Pois, poderíamos achar: quando aqui prolifera actualmente o desemprego, a fome numa escalada sem precedentes, as perspectivas de vida a gorarem minuto a minuto…o que passará então pela cabeça de um senegalês, guineense, congolês, ou maliano, para pensarem que a Europa ainda é o destino ambicionado para uma vida melhorada, com facilidade?...
Sempre que surgem estas notícias, recordo um email que recebi de um moçambicano há um tempo atrás que dizia assim:
“Senhor João Pedro Martins, explique-me, por favor, que eu por mais que tente não consigo perceber, como é que é possível que o senhor Malato consiga no Jogo Duplo dar todos os dias a uma pessoa por esta ter respondido a meia dúzia de perguntas cerca de dois ou três mil euros? Todos os dias. Senhor João Pedro Martins, o senhor Malato dá num dia, em apenas uma hora, o que nós por aqui não conseguimos ganhar num ano de muito trabalho. Como é que isso é possível? Onde é que ele vai arranjar o dinheiro? Explique-me, por favor, senhor João Pedro Martins, porque eu já não sei mais o que fazer à minha vida para conseguir dar de comer aos meus filhos.”
Convém dizer o seguinte: para que fosse possível esta mensagem chegar às minhas mãos devo referir que o concurso apresentado por José Carlos Malato é visto diariamente no continente africano através da RTP África.
Disto mesmo, deste email, desta situação, desta brutal e dolorosa realidade, dei conta ao próprio José Carlos Malato, quando juntos nos encontrámos para fumar uma cigarrada nas escadas de incêndio da RTP. Nele, enquanto me escutava, observei o olhar emocionado e consternado.
Aqui, no Velho Continente, sem sequer nos apercebermos, e apesar de todas as crises que passamos, ainda continuamos a vender aos olhos de muitos, tudo isto, como se de um paraíso se tratasse.
E, agora, será que ainda custará, a alguém que me lê, perceber por que tantos arriscam a vida em pirogas sem condições, e sobrelotadas, para tentar “dar o salto”?