A FANTASIA FINAL


“As pessoas criam as suas próprias verdades. E mesmo que não tenham a certeza de coisa alguma,
a maior parte das vezes não querem saber o que é mesmo verdade. E, nada, nem mesmo na dúvida mudam de opinião. Essas verdades até podem ser mentiras,
mas sem dar conta acabam por alimentá-las e viver com elas para o resto das suas vidas.”



A expressão em epígrafe vem mencionada na contra-capa do meu livro “As Portas ou a morte de um mito”, que foi publicado em 2003.
Serve ela, ou tem servido toda a vida terrena, desde que existe Homem, para qualificar a capacidade tenebrosa do ser humano que única e simplesmente dá ouvidos ao “diabinho” que lhe pesa em cima dos ombros. Todos o carregam, só alguns o ouvem, e ainda bem.
O sindroma da esquizofrenia, infelizmente, embora real, domina e absorve mais do que os diagnosticados com tão problemática situação. E nem mesmo o melhor profissional da área psiquiátrica poderá contrariar os intentos do louco que se acha pleno de razão.
Fantasiar com meias verdades, ou com a pura falsidade, conquistada apenas através da própria consciência e imaginação é um acto só ao alcance dos tenebrosos, rancorosos, invejosos, incapacitados por várias vias, nomeadamente a da realização pessoal, para dessa forma atormentar toda a vida daqueles que os rodeiam.
Hoje, temos muitos exemplos disso mesmo no seio da sociedade em que vivemos. Pode ser o pseudo-jornalista, ou como costumo dizer, o “jornaleiro” de um qualquer jornal ou revista da “tanga” que só ouve uma das partes em questão; ou o que se diz amigo e que vai na cantiga do vizinho sem tirar a limpo o que de facto aconteceu; ou simplesmente a pessoa que trabalha a nosso lado diariamente, e que nos sorri todas as manhãs à nossa chegada, mas que está à espera a qualquer altura do momento oportuno para nos passar a perna e fazer cair no charco. O seu lema preferido é o seguinte: Se não podes com eles, lincha-os com todas as pedras que tiveres ao alcance das mãos. O mesmo será dizer, só para desmistificar as coisas: Se te sentes incapaz, não é por que os outros são melhores que tu. É apenas porque eles não te deixam mostrar sequer que vales muito pouco. Então, vai daí, acabar com eles é o melhor remédio.
É verdadeiramente triste aquele que não entende que a sua falta de realização não pode ser imputada a outros. É verdadeiramente repugnante aquele que não tendo como objectivo de vida a sua própria realização, primeiramente, como ser leal aos princípios fundamentais do ser humano, pretende unicamente acabar com quem está na corrente para uma vida sã e respirável, feliz e capacitado de quem tem apenas que aprender a amar o que tem e não se deixar tornar escravo do que desejaria ter.
Alguns podem ter na reabilitação a salvação. A maioria não quer saber.
Infeliz o que premedita a maldade apanhando despercebido o inocente que nem lhe reconhece capacidade para desafio tão monstruoso.
Mas tal como os bolbos de um pequeno jardim, resta-nos a esperança na sua própria resistência para voltar a germinar na estação seguinte, mesmo que maldosamente a planta tenha sido cortada fora de um tempo que não era o seu.
É por isso conveniente acreditar sempre que alguém superior ao ser humano comum continue a velar pelos ingénuos que de tão tansos não são mais que boas pessoas de cariz particularmente elegante e que passam pela vida desejando a pacificação e união. Apenas tão só. Desses a história irá revelar mais tarde ou mais cedo boas passagens no seu tempo. Os outros morrerão de tédio com uma cruz pesada que não os trará à memória de quem quer bem.
A terminar, só acrescentar que as fantasias são isso mesmo como o próprio nome indica – fantasias. A esquizofrenia, esse, é um problema real, a maior parte das vezes intratável. Mas, saliente-se, são raros, ou nenhuns, os esquizofrénicos com essa faculdade. Ou então não seriam.
Estará neste momento, quem me está a ler, a perguntar, o que quererá ele dizer com este texto?! Pois…nada de especial. Foi apenas um devaneio que tive, numa altura em que estava muito disponível para fantasiar.