MÁSCARA DE POETA

O Carnaval não é para mim das festividades mais apreciadas. Nem sei bem o motivo. Talvez porque um dia, quando era muito jovem, e estando eu com a minha melhor fatiota de domingo fui presenteado por um folião com dois ovos e muita farinha cabeça abaixo, que me deixaram num estado lastimoso e a chorar baba e ranho. Deve ser por isso. Não encontro outras razões.
Mas, ainda assim, e em virtude da existência deste blog, recentemente criado, resolvi, este ano, colocar uma máscara de poeta, coisa que realmente não sou, nem tenho de facto pretensões a ser, nem nada que se pareça, e publicar por aqui algumas, não direi poesias, eu prefiro chamá-las de cantigas, que ao longo dos tempos fui escrevendo, nem sei bem porque motivo. Talvez um dia alguém as cante. Ou talvez não.
Para mim tanto me faz.




O SONHO DO REGRESSO

Amanheceu e ele chorava sozinho
Com tantas perguntas sem resposta,
Como um pequeno barco perdido na espuma das ondas
Sem saber bem para que lado ficava a costa.

E eu pedi-lhe que não voltasse a partir
Porque talvez não mais regressasse
A este calmo cais onde se encontrava,
E talvez o sonho não mais se realizasse.

Deixou-me um sinal de esperança
Mas eu sabia que ele partia de vez.
Ainda esperei a minha vida, inteira,
Sem nunca entender porque é que ele o fez.

Pouco importa agora tudo isso,
Já esperei tempo demais.
Aguarda-me numa próxima vida,
Lá estará de novo este meu cais.

Veremos outros céus e outras estrelas,
Ouviremos a mesma canção,
Mas por agora meu grande amor
Liberta por favor o meu coração.


SE EU PUDESSE VOLTAR ATRÁS

Perdi-te numa noite de luar,
Troquei-te por uma triste ilusão,
Fiquei escondido quando te vi passar,
Entreguei-me à minha solidão.

Agora sei que a vida sem ti não é igual,
Tudo o que sonhei se desvaneceu,
O significado das coisas afinal
Sem ti por perto, tudo morreu.

Perdi-te numa bela noite de luar,
Perseguindo uma teimosa fantasia,
Ai se eu pudesse aos teus braços regressar.
Mas agora é tarde para dizer o que fazia.

Perdi-te numa triste noite de luar,
Troquei-te por uma simples ilusão,
E fiquei calado quando te vi chegar.
Entreguei-me para sempre a esta solidão.

Se eu pudesse voltar atrás
E refazer aquilo que desfiz,
Voltaria por fim a ter paz,
Pediria perdão pelo que fiz.


QUE SE PASSOU ENTRE NÓS?

O tempo passou.
Até parece que foi ontem.
Vivíamos como amantes de verdade,
Mas agora tudo mudou.
Hoje somos apenas pessoas solitárias,
Tentando esquecer até os próprios nomes.
O tempo, o amor secou.

Talvez fossemos simplesmente jovens de mais para saber.
Mas agora, como dantes,
Eu ainda sinto o mesmo.
E às vezes, sem querer,
Durante as longas noites em que não durmo,
Parece que te ouço chamar pelo meu nome.
Estes sonhos ajudam-me a viver.

Morro de saudade.
Que se passou entre nós?

Dantes éramos amantes,
Mas isso foi há muito tempo.
E tanto que fizemos,
Vivemos juntos tantos anos,
E agora nem sequer dizemos: “Olá!”

Talvez fossemos simplesmente demasiado novos para saber,
Viver.
Mas agora,
Como dantes,
Estes sonhos ajudam-me a viver.

Morro de saudade.
Que se passou entre nós?



SEDE

Corre-me o álcool pelas veias,
Puxo de mais um cigarro para fumar.
Sofro de uma inquietação profunda,
Acendo as velas para não sufocar.

Viajo para o fim do Mundo,
Corro e não penso em parar.
Eu sou um grão de areia,
Mas ninguém me vai acusar.

E vou para todos os lados
Sem sair do meu lugar.
E sofro, e grito, e não entendo…
Tenho dias em que acabo a chorar.

Só não sei como mudar as coisas,
Estamos todos a terminar.
Receio não ter mais tempo,
Para mais alguma coisa atentar.

Agora só quero acabar com esta sede
Que sinto ter para saciar.
Dar graças a toda a gente
Ainda antes de me deitar a sonhar.

E vou para todos os lados
Sem sair do meu lugar.
E sofro, e grito, e não entendo…
Tenho dias em que acabo a chorar


O TEMPO COMO O VENTO

Eu quero voltar a aprender,
A gostar das coisas por descobrir,
Desejar ficar e perceber,
Não sentir vontade de partir.

Há tantas coisas que nunca vi,
Por isso sei o que é estar assim.
Nesta vida ainda busco por ti.
Sem o teu amor nada vale para mim.

Ai do tempo
Que passa,
Como o vento
Que faça.

Vou ficando velho e chato,
Mas a esperança é que eu não perco,
Os tempos vão indo mas não desato,
E eu de ti que não mais me acerco.

Um dia pode ser que te reencontre,
Que o vento até mim te torne a trazer,
Que me dê de presente a tua fronte,
E nos leve de novo a sentir prazer.

Ai do tempo
Que passa,
Como o vento
Que faça.

Estou de regresso a ti meu amor,
Foram tantos anos sem te ver,
Tantos lugares, frias camas e muita dor,
Foi tanto o que sofri por não te ter.

Ai do tempo
Que passa,
Como o vento
Que faça.