ADIVINHA QUANTO EU TE AMO



O André Sardet está de parabéns pela ideia fantástica do seu Mundo de Cartão.
Eu subscrevo: todos os dias de uma criança deve terminar com uma história contada pelo pai ou pela mãe.
Aqui fica uma possibilidade…




Eram horas de ir para a cama, e o coelhinho agarrou-se com firmeza às longas orelhas do coelho pai.
Depois de ter a certeza de que o pai coelho estava a ouvir, o coelhinho disse-lhe bem encostado ao ouvido:
- Adivinha quanto eu te amo!
- Ah, acho que isso eu não consigo adivinhar – respondeu o coelho pai.
- Tudo isto – disse o coelhinho, esticando os braços o mais que podia.
Só que o coelho pai tinha os braços mais compridos, e disse: - e eu amo-te tudo isto!
- Hum, isso é um bocado - pensou o coelhinho.
- Eu amo-te toda a minha altura – disse o coelhinho.
- E eu amo-te toda a minha altura – disse o coelho pai.
- Puxa, isso é bem alto - pensou o coelhinho. - Eu queria ter braços compridos assim.
Então o coelhinho teve uma boa ideia. Virou-se de cabeça para baixo apoiando as patinhas na árvore, e gritou: - Eu amo-te até às pontas dos dedos dos meus pés, papá!
- E eu amo-te até às pontas dos dedos dos teus pés – disse o coelho pai balançando o filho no ar.
- Eu amo-te toda a altura do meu pulo! - riu o coelhinho saltando de um lado para outro.
- E eu amo-te toda a altura do meu pulo – riu também o coelho pai, e saltou tão alto que as suas orelhas tocaram nos galhos da árvore.
- Isso é que é saltar - pensou o coelhinho. - Bem que eu gostaria de pular assim.
- Eu amo-te toda a estrada daqui até ao rio – gritou o coelhinho.
- Eu amo-te até depois do rio, até às colinas. – Disse o coelho pai.
- É uma bela distância - pensou o coelhinho. Mas, naquela altura já estava sonolento demais para continuar a pensar.
Então, ele olhou para além das copas das árvores, para a imensa escuridão da noite e concluiu: nada podia ser maior que o céu.
- Eu amo-te até à Lua! – disse ele, e fechou os olhos.
- Puxa, isso é longe – falou o pai coelho – longe mesmo!
O coelho pai deitou o coelhinho na sua caminha de folhas, inclinou-se e deu-lhe um beijo de boa-noite.
Depois, deitou-se ao lado do filho e sussurrou, sorrindo: - Eu amo-te até à Lua...ida e volta!

E vocês que acabaram de ler esta história de brincar...já competiram alguma vez com o vosso filho quem gosta mais um do outro?
Geralmente as competições são em torno de questões como quem joga melhor futebol, quem corre mais, quem vence mais etapas na playstation, quem ganha mais prémios...
Bem sabemos que a velha desculpa da vida atarefada, o corre-corre e os inúmeros compromissos, por vezes, afastam-nos das coisas simples como sentar na cama ao lado do filho e contar-lhe uma história, enquanto o sono não vem. Acariciar-lhe os cabelos, segurar as suas pequenas mãos, fazer-lhe companhia para que se sinta seguro. Deitar-se, sem pressa, ao seu lado quando ele vai para a cama, falar-lhe das coisas boas, ouvir com ele uma melodia suave para espantar os medos que tantas vezes ele não confessa. Falar-lhe do afecto que sentimos por ele, do quanto ele é importante em nossa vida. Dizer-lhe, por exemplo, que um anjo bom vela o seu sono…
E se por acaso pensam que isso não é importante, talvez já se tenham esquecido das muitas vezes que arranjaram uma boa desculpa para se aconchegarem ao lado do vosso pai ou da mãe, nas noites de temporal, por exemplo...
Se, às vezes, é difícil para vocês, pais, aproximarem-se de um filho rebelde, tenham em conta que a rebeldia dele pode ser, simplesmente, um apelo desajeitado de alguém que precisa apenas de um colo seguro e um abraço de ternura.