O PRIMEIRO GRANDE CONCERTO

Para obtener un…olhar lindo!




Era uma tarde de um normal dia de semana, de Maio, salvo erro.
O ano lectivo estava a terminar, e a minha filha mais velha estava prestes a passar do 6º para o 7º ano de escolaridade.
Hoje, os tempos são diferentes. No meu tempo, o significado desse momento, dessa passagem de ano, era enorme. Passar do Ciclo para o Secundário era obra. Era quase como dizer o último adeus à infância e saudar definitivamente a adolescência.
Por isso quis premiá-la. Sem que ela suspeitasse.
Fui buscá-la à escola ao fim da tarde, o que não era habitual. Quando me viu, dentro do carro à sua espera, junto ao portão, estranhou, mas não se importou muito.
- Hoje, vamos jantar fora, só nós dois. Que tal irmos ao McDonald's?
Sabia que a resposta seria gulosa.
E acrescentei:
– No Vasco da Gama, que tal?
- Oh, pai, por mim tudo bem. Vamos!...
Lá chegados, cedo, por sinal, eu já a levava fisgada, ainda não eram 19 horas, comemos juntos um hambúrguer. Depois, convidei-a a dar uma volta, ainda era dia, estávamos em plena Primavera. Muito movimento no Parque das Nações, sobretudo junto ao Pavilhão Atlântico, ela topou.
- Oh pai, que se passa aqui?
- Não sei. Vai lá ver – respondi.
Ela foi num pé e voltou noutro, excitadíssima, como eu já imagina.
- É a Shakira, pai. É o único espectáculo dela aqui em Portugal. É hoje. Na minha escola não se falava de outra coisa. Podemos ir?...
- Estás tolinha? Ouvi dizer que está esgotado. Como é que achas que arranjamos bilhetes a uma hora do início do espectáculo?...E deves achar que é barato, não?...
- Tens razão, pai. Gostava de ir, mas pronto, já foi bom vir contigo, sozinhos os dois, para aqui passear. Vamos dar uma volta? – atirou com a maior das inocências, quase que me desarmando.
Ao que eu retorqui:
- Mas, escuta, o pai trabalha na rádio…tenho aqui o meu cartão…gostavas de ir pelo menos lá dentro do Pavilhão só por um bocadinho, ver como são estes espectáculos com grandes estrelas do mundo da música?
- Adorava, pai. Podemos ir?
- Não sei se podemos entrar. Mas já que estamos aqui à porta, vamos ali perguntar. Podemos tentar…
E fomos.
E ao caminharmos para a entrada do Pavilhão Atlântico surge ao nosso encontro uma repórter da rádio que em Portugal patrocinava o espectáculo. Estava em directo. Colocou o microfone à frente da boca da minha filha. Lançou-lhe perguntas depois de desafios para dançar mexendo as ancas como faz a colombiana.
- Gostas da Shakira?
- Adoro. É a minha cantora preferida.
- Qual é a música que vais querer que ela cante?
A minha filha gelou naquele momento:
- Não sei. Eu não vou ver. Não tenho bilhete. Só vim aqui passear com o meu pai.
Um pouco recuado, a uns três metros de distância, eu já fazia um esforço enorme para segurar as lágrimas de alegria e de orgulho que teimosamente me queimavam e queriam saltar dos olhos.
Resolvi intervir:
- Ela vai. Nós vamos. Só que ela ainda não sabia. Era surpresa.
Naquele momento, a minha filha olhou para trás, os olhos dela vieram ao encontro dos meus, e eu, naquele momento, naquele exacto momento, em que ambos os olhares se cruzam senti-me…O PAI MAIS FELIZ DO MUNDO.

O olhar de gratidão de um filho vale tudo.