VIVER COM SIMPLICIDADE



Uma vida simples, com prazeres singelos.
Parece atraente?
Para alguns, a vida simples é uma aspiração. E isso não tem qualquer relação com os tempos de crise que vivemos. Conheço muitos que passam o dia a infernizar os outros dialogando sobre a crise e nem sequer a sentem.
Não são muitos, eu sei, mas aumenta a cada dia os que buscam um estilo de vida mais despojado, e não porque sentem os efeitos da tão propalada crise, mas por vontade própria.
Contudo, e apesar da tramada crise, é bem verdade que a grande massa ainda se mostra adepta dos benefícios oferecidos pelas cidades. Mas, por outro lado, nota-se que aos poucos as pessoas mostram-se cada vez mais cansadas da rotina urbana, que enlouquece. Poluição, engarrafamentos, ruídos. A floresta de edifícios que se perdem no horizonte, escondendo o céu e sol.
Tudo isso, e não apenas a crise (que diabo, parece que não se fala de outra coisa!) contribui para o stress e para as angústias do homem contemporâneo.
Quando se é jovem, é natural que se deseje os desafios e as facilidades das cidades, que oferecem objectos de desejo a cada esquina. São as maravilhas da tecnologia, os bares da moda, as roupas que fascinam, os belos escritórios, as carreiras.
Tudo isso exerce um tremendo fascínio. Mas, aos poucos, é possível observar que esse modelo se vai esvaziando. Um certo cansaço começa a ser notado.
Uma nova expressão vem entretanto ganhando espaço: qualidade de vida. São cada vez mais numerosos os que desejam voltar aos ideais de uma vida simples, uma casa no campo, um contacto mais estreito com a natureza. Querem respirar ar puro, ver um pôr-do-sol dourado, passar noites tranquilas, manter conversas ao fim da tarde.
A sensação que se tem é que as pessoas, afinal, começam a perceber que a vida é muito mais do que prazeres passageiros.
Existem razões para o esgotamento do modo de vida urbano: o consumismo desenfreado e a sensação de se estar numa corrida permanente.
No trabalho, o desafio é a competitividade, que atropela o ser humano e o consome, transformando-o numa peça de uma fria engrenagem. É um processo perverso, que desgasta as energias, estimula ciúmes e transforma em inimigos os que deveriam trabalhar em harmonia.
E que perguntas costumam ser feitas por quem está nessa roda-viva: será que dá para viver uma vida normal fora das grandes cidades? Será possível conciliar as exigências de uma carreira, da vida social e da família com uma rotina mais amena?
A resposta é... Sim! É possível conciliar tudo isso. Não é uma tarefa muito fácil, mas pode ser realizada.
Porque a simplicidade não é feita de demonstrações exteriores. Ela é um estado de espírito.
Não precisamos de nos vestir de trapos, nem abrir mão de uma vida normal para vivermos como pessoas simples.
A simplicidade está em viver a vida sem exigências descabidas. Quem opta pela simplicidade, torna menos complicado o dia-a-dia.
Muitas vezes perdemo-nos em detalhes completamente desnecessários. E, com isso, tornamos insuportável a nossa vida e a dos outros.
Observe com atenção e perceberá: fazemos demasiadas exigências por causa de coisas mínimas, das quais nem nos lembramos depois de algum tempo.
Por isso, a opção por viver com simplicidade é, antes de tudo o mais, uma forma de agradecer à vida o que temos de verdade.
Simplicidade é ter sonhos. Mas, se eles não se realizam por qualquer razão, ainda assim a vida não perde a graça. Ou seja, apesar das tempestades, o contentamento permanece inabalável.
Quer ser feliz?
Seja simples. Experimente o prazer das coisas que estão à sua volta!
Olhe para o céu, veja as nuvens tingidas de ouro no infinito azul.
Ouça o som dos risos espontâneos, sinta a frescura de um copo de água, o sabor de uma fruta, a serenidade de uma noite bem dormida.
Veja a beleza dos livros e das canções.
Quem disse que não há prazer nas coisas pequenas que temos ao nosso alcance?
Faz nesta altura seis anos que troquei a cidade pelo campo. Contudo, continuo a manter a minha vida profissional na metrópole. A viagem diária é desgastante, confesso. São 150 quilómetros por dia, todos os dias. E, no local onde habito, não tenho centro comercial por perto, não tenho cinema, nem teatro, nem ginásio, nem discoteca, nem telepiza, nem mcdonald’s…Para levar os miúdos à escola tenho que pegar no carro. Para ir comprar um simples maço de cigarros, tenho que pegar no carro. Mas uma coisa é certa: quando retorno a casa, quando estou em casa, e observo o céu, e ouço o silêncio, posso garantir que sinto um prazer inigualável. Como não era possível quando vivia na cidade.