Quem acha que perder é ser menor na vida,
Quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar,
Eu, que já não quero mais ser um vencedor,
Levo a vida devagar, para não faltar amor.
A letra desta música popular brasileira (O Vencedor, do grupo Los Hermanos) é de uma extraordinária beleza e profundidade.
Vejamos: neste nosso mundo das vitórias a qualquer preço, dos que até já nasceram para vencer, como se costuma ouvir aqui e ali, e coisa e tal…é bom que duvidemos, e, acima de tudo, na minha opinião, é necessário que pensemos um pouco sobre o assunto.
Todos queremos vencer, é certo. É normal e natural. A natureza impulsiona-nos sempre para as vitórias, e logicamente para o crescimento contínuo e inevitável através delas. Porém, qual é, de facto, o nosso entendimento real da palavra vencer? E quem é que nós julgamos que são os vencedores?
Essa é que é a questão fundamental.
Será que adianta vencer profissionalmente, ter sucesso e fama, se nos falta amor?
Será que adianta ser considerado um vencedor no campo desportivo, por exemplo, ou em qualquer outra carreira, até mesmo na arte, se, por ventura, como pais, cônjuges, filhos, irmãos, somos uns verdadeiros derrotados?
E será que vale a pena, realmente, vencer a qualquer preço?
Será que os vencedores são apenas aqueles que conseguem - neste País de tantas dificuldades – por exemplo, concluir um curso superior?
Será esse mais um dos nossos reais critérios de vitória? A formação intelectual, as conquistas profissionais e as riquezas acumuladas?
Tenho para mim que, em caso afirmativo, essa seria certamente uma vitória muito pobre...
Criar um vencedor em casa, um filho, por exemplo, não é apenas dar-lhe as oportunidades da formação intelectual.
Criar um vencedor é criar um homem de bem, que saiba valorizar o amor e, acima de tudo, os relacionamentos saudáveis.
Criar um vencedor é ensiná-lo a perder, e a lidar com as derrotas da vida, procurando extrair delas, sempre, uma lição preciosa de enriquecimento moral.
Derrotas aparentes são preparações fundamentais para que as grandes vitórias sejam possíveis.
Por isso, levar uma vida devagar, pode significar dar mais atenção à família, pode significar “dar-se mais aos outros”.
Uma certeza eu tenho: na vida de quem não falta amor, há sempre muitas, e inesquecíveis vitórias.
Venci a vontade de querer mais.
Troquei pela vontade de "ser" mais.
Não sou vencedor aos olhos do mundo.
A minha vitória é secreta, quieta, segura. É minha.
