"SEGREDOS" NO PORTO



A Fronteira do Caos Editores, o Plano B e o autor convidam Vossa Excelência para a apresentação pública do livro “SEGREDOS”, a ter lugar no próximo dia 30 de Maio no espaço multi-disciplinar Plano B, na cidade do Porto, pelas 17 horas.
Estão todos convidados.

JOÃO PEDRO MARTINS nasceu em Vila Franca de Xira no ano de 1967. Abraçou cedo o jornalismo, tendo dado os primeiros passos na Imprensa Escrita e na Rádio com apenas 17 anos.
Fundou um jornal regional ribatejano (1996) e ajudou na criação da Antena 3 (1993) e RDP África (1996).
Em 2003 publica o seu primeiro livro de ficção “As Portas ou a morte de um mito”, e em 2008 o romance “Céu Negro”.
Este seu terceiro livro “Segredos” tem, entretanto, uma particularidade curiosa: foi o primeiro a começar a ser escrito. Teve, na realidade, um período de gestação de cerca de 15 anos.
(Fronteira do Caos Editores, 2009)



O Plano B é um espaço multi-disciplinar, que surgiu do esforço concertado dos Arquitectos Bernardo Fonseca e Filipe Teixeira, e do Artista Plástico/Músico João Carlos, no sentido de oferecer à cidade do Porto (em especial à Baixa), um novo foco de cultura, dinamização e mobilização urbana.
A Baixa do Porto, ao contrário do que acontece nas zonas históricas de outras metrópoles europeias, estava desabitada, suja e sem a dignidade de uma cidade. Nota-se no entanto, uma vontade nas pessoas que habitam, trabalham ou estudam na baixa, de mudar esta situação e viver a cidade.
Um dos objectivos desta associação passa pela oferta de um espaço físico com boas condições para realização de exposições de artes plásticas, design e arquitectura; congressos, tertúlias e workshops; teatro; concertos de música, do jazz ao rock passando pela electrónica ou música experimental; ciclos de cinema e documentários; entre outras actividades afins com os objectivos do Plano B.

ESPAÇO CULTURAL
- exposições
- projecção de vídeos e filmes
- galeria
- espaço experimental e híbrido

ESPAÇO COMERCIAL
- cafetaria e bar de apoio, aberto durante a semana à tarde, com internet wireless gratuita

ESPAÇO POLIVALENTE
- concertos
- espectáculos, dança, teatro, performance
- palco
- dj’s

Plano B
Rua Cândido dos Reis nº 30 (aos Clérigos)
PORTO
geral@planobporto.com
http://www.planobporto.com/






«Passam nesta altura dez minutos das cinco da manhã…», ouço o locutor de uma estação de rádio a dizer com uma voz ensonada mas a querer forçar o contrário. Melhor seria, penso eu, que estivesse a dormir. Provavelmente também ele deveria estar a pensar o mesmo. Para quem trabalha de noite e faz daquilo o seu dia aquela hora que corta a meio a madrugada será talvez a mais complicada de ultrapassar. Desligo o rádio sem me perturbar muito com o assunto mas permaneço deitado no chão daquela sala que até há pouco tempo atrás foi preenchida por conversas que não sei se nos teriam levado a algum lado. A luz está apagada. Estou completamente às escuras com o corpo virado para cima e sei que tenho o coração bem na direcção do candeeiro de suspensão situado no tecto. Fui eu que o pendurei. Não tenho a certeza de que esteja devidamente seguro. Ocorre-me a possibilidade de ele se desprender e cair naquele instante. Sinto o rosto a esboçar um sorriso quase tresloucado. Tenho a noção que se pensar com convicção talvez aconteça mesmo. Quero, não quero, opto por desviar dali a ideia. Tenho a cabeça em cima de um dos braços numa posição que normalmente acharia incómoda mas naquele momento não. Refresco os pensamentos: já foram todos embora, mas a conversa contudo não se esgotara. Nunca se esgotava. Quem sabe talvez no próximo sábado à noite seja retomada. A mesma conversa, os mesmos assuntos, as mesmas pessoas, a mesma sala, aquela, ou talvez não, isso pouco importa. Ou no outro a seguir, sábado voltará, não tenho dúvidas. Patrícia já recolheu, já deve dormir. Eu não, é o costume, continuo a sentir um gosto imenso em ficar sozinho durante muitos momentos do meu tempo. Gosto de me deitar no chão da sala com a luz apagada. A última coisa que Patrícia me disse naquela noite foi «até amanhã», com um sorriso nos lábios. Mas não tenho a certeza. Quero pelo menos pensar que foi assim que se despediu de mim. Não sei ao certo quanto tempo mais vou resistir ao sono e ao cansaço. Só sei que preciso deste instante, e do último cigarro, e desta escuridão, e do silêncio que de tão intenso se faz ouvir.
O cigarro. O queimar. O sentir.
Um pulo. O cigarro consumido pelo ar queimou-me os dedos. Acendo a luz e observo a cinza que embora tombada no chão parecia sólida. Em mim uma sensação esquisita da falta de noção do tempo. Parece até que passaram horas, mas não. Só a estranha impressão de ter sonhado. Muito. Ter estado em tantos lados e com tanta gente. Ter vivido situações estranhas, irreais, incompreensíveis. Tudo num flash.
Os sonhos, às vezes, são mesmo estúpidos.
Acho que vou morrer.


(João Pedro Martins in “Segredos”)