NÃO HÁ FUTURO POR AQUI


Cai o vento sobre a relva,
O vento sopra frio e dói,
A cidade parece uma selva.
Ai, este tempo que nos corrói.

E na cadeira que balança
Está um homem que se coça,
Sonha em viajar para França,
Largando esta grande poça.

Não foi assim há tanto tempo
Que nos vieram com a canção:
“A coisa vai a favor do vento”.
Mas afinal vamos é em contramão.

Oh Senhor da Boa Morte,
Olhai um pouco aqui por nós,
Que estamos entregues à nossa sorte.
É cada um por si, e seguimos sós.

Já não há corpo que resista,
Nem cabeça para aguentar.
Diziam: o importante é que não desista.
Mas agora já começa a fartar.

Não há ninguém que nos valha,
Os putos já não querem saber.
Dos discursos só ouvimos palha,
Os velhos já só pensam em morrer.

São contas e contas por pagar,
E nada do que temos é nosso.
À noite dou por mim a chorar,
De dia não sinto as pernas, não posso.

Ao almoço fazemos jejum,
Ao jantar permitem-nos sopa,
O nosso fado é um trinta e um,
Nem para um tintol a malta poupa.

Não há futuro por aqui,
Não há futuro,
Alguém que nos valha.
Eu vou embora para fora,
Eu vou embora,
Vou fugir com a maralha.