VERDADEIRO AMOR

O que é o verdadeiro amor?
Será que esse sentimento existe de facto?
Qual a essência do amor? E o que existe realmente no íntimo de cada um de nós quando achamos que é de amor que se trata?
É opinião geral, e real, que o amor tem várias formas e maneiras de se manifestar. Existe o amor de mãe, de pai, de esposa, de marido, de irmão, de tio, de avó, de avô, de neto, de amigo… por aí fora, um nunca mais parar.
Trago hoje a este blog esta questão porque um dia destes li, num jornal on line espanhol, uma história de amor das mais belas e significativas, contada por uma médica local.

Numa tradução livre para a língua portuguesa, eis o que disse a médica ao jornal:
“Um homem de certa idade foi à clínica, onde trabalho, para tratar de uma ferida na mão.
Estava com pressa, e enquanto o tratava perguntei-lhe o que tinha de tão urgente para fazer.
Ele respondeu-me que precisava de ir a um asilo para tomar o café da manhã com a sua esposa, que estava lá internada.
Disse-me ainda que ela estava naquele lugar há algum tempo porque sofria de Alzheimer, em estado já bastante avançado.
Enquanto acabava de fazer o penso, perguntei-lhe se a esposa ficaria preocupada e incomodada se por acaso ele chegasse atrasado naquela manhã.
“Não” - respondeu ele “ela já não sabe quem eu sou. Faz quase cinco anos que não me reconhece.”
Então perguntei-lhe de certa forma surpreendida: mas se ela já não sabe quem é o senhor, porque mantém essa necessidade de estar com ela todas as manhãs?
Ele sorriu, e com um olhar enternecido disse-me: “Pois... ela já não sabe quem eu sou, mas eu sei muito bem quem ela é.”
Tive que conter as lágrimas enquanto ele saía, e pensei naquele exacto momento: é este tipo de amor que quero na minha vida.”

É uma história bonita, daquelas que surgem regularmente nos jornais e revistas que lemos, mas que na verdade nem ligamos. Lemos e esquecemos de imediato. E leva-nos a reflectir uma vez mais sobre algo que já sabemos há muito, mas que também esquecemos quase sempre e depressa. É que o verdadeiro amor não se reduz nem às questões de ordem física nem apenas ao romantismo (na verdadeira essência da palavra).
O verdadeiro amor é a aceitação de tudo o que o outro é. Do que foi. Do que será. E do que já não é.
Neste caso particular aqui descrito relacionado com Alzheimer - um transtorno neurológico que provoca a morte das células nervosas do cérebro, e que pode apresentar-se em pessoas a partir dos 40 anos de idade, de maneira lenta e progressiva, e em estado avançado, provoca no paciente a incapacidade para comunicar, reconhecer pessoas, lugares e coisas, e o doente perde a capacidade de andar, de sorrir, de tratar da sua própria higiene, e passa a maior parte do tempo a dormir – convém referir que a pessoa embora afectada pela doença não fica insensível à atenção, ao afecto, ao carinho e à ternura que lhe dedicam.
A pessoa sente o amor com que a envolvem.
Por esta razão vale a pena reflectir como a médica, que ficou a pensar, depois do seu paciente ter saído para ir visitar a esposa: “É este tipo de amor que quero na minha vida”.