VOAR

Apetece-me um pôr-do-sol
Algo que se esconda,
Para além de mim,
O cheiro da maresia do mar
Que me deixe a pensar
Como acabei por ficar assim.
Quero sentir-me leve como antes,
Tão solto
Capaz de me deixar ir ao sabor do vento,
Caminhar
Pelas dunas e pela areia molhada
Sem deixar marcas por apagar
E depois, se puder
Quero voar,
Voar para ti
Convidar-te para comigo embarcar
E navegar,
Soltar as amarras,
Enfrentar as ondas sem temor,
Seguir sempre com os olhos no horizonte sem fim
Despreocupado por não ter terra à vista.
Não sei porque tem isto de ser assim,
Afinal,
Talvez bastasse ser menos complicado,
Não tentar saltar o muro
Mas apenas contorná-lo.
Há sempre uma saída,
Logo uma entrada.
Os anos tornaram-me medricas.
Dantes procurava saídas
Sem perder tempo a saber se depois encontraria portas abertas.
E eu agora aqui estou,
Olho o espelho
E revejo-me como quase sempre fui.
Achava eu,
Afinal é só o reflexo que se mantém,
Tudo o resto foi alterado
E eu não tinha dado conta.
Será que é tarde para recuperar
Aquele que de mim se afastou,
Para tentar buscá-lo outra vez,
(Sei lá onde se terá escondido),
E retomar
O caminho do sentido da vida,
A felicidade,
Digo eu, romântico incurável?
Será
Que ainda posso ambicionar mais um pôr-do-sol
E água fresca a escorrer-me pela face
Misturada com lágrimas e risos
De gente muito alegre
Que não fica parada
A ver passar os dias mais tristes
Enquanto não chega o adeus definitivo?
Quero rir
Despreocupado
Correr, saltar, brincar,
Quero fugir ao encontro de ti,
Por aí,
E voar.

João Pedro Martins
(P.S.: Escrita livre sem compromissos formais nem ousadias poéticas)