UMA NOVA LUA

Uma "espécie de poema" que escrevi numa noite igual a esta:


A noite já vai alta,
E eu, ao leme do meu barco,
Olho as estrelas prestes a desaparecer
No meio do intenso nevoeiro.
Mas uma enorme lua cheia
Teima em permanecer,
Ali sobre o mar.
E dança, dança teimosamente
E eu dou por mim a sonhar.


E é então que reparo num velho homem,
Que se chega bem junto a mim,
Olha-me profundamente e diz:
“Pequeno navegante,
Porque não estás ainda a dormir?
A vida não corre como eu quis,
E agora já estava a descansar.
Os dias já me pesam, a vista está cansada,
E o vento não pára de soprar.”


“Talvez no teu sonho possas viajar
Toda a noite com um anjo a teu lado,
Para te ajudar quando vier a forte tempestade.
Mas vê bem pequeno navegante,
Lá longe, governada pela tristeza,
E ninguém foge daquela cidade.
Eu, por mim, estou cansado e vou partir,
Para onde as portas estão abertas e as chaves não são precisas.
Há muito que estou pronto para sair.”


“Eu vou para perto de um rio tranquilo,
E tu tens que fechar a janela do teu quarto,
E fazer um esforço para não chorar.
Há uma nova lua no céu.
Guarda o amor que tens dentro de ti
E tudo o resto que ainda podes dar,
Para outros tempos que se vão seguir,
E diz por agora, boa noite,
Chegou a hora de ir dormir.”


João Pedro Martins