Uma CRUZ para o resto da vida





Ao vender à Imprensa a ideia de que vai tornar público no fim deste mês os cerca de 200 nomes que constam do Processo Casa Pia, Carlos Cruz, que diz estar no seu direito, não está na realidade mais do que a pressionar o poder político a fazer por si o que não conseguiu durante uma longa investigação para desmentir as acusações de abusador de menores de que foi alvo. Está portanto a gritar por socorro aos mesmos que, ele sabe, ajudaram a salvar Gertrudes Nunes de uma pena de prisão. A diferença é que a proprietária da casa de Elvas terá feito esse pedido em surdina aos comprometidos amigos legisladores em troca do seu silêncio quanto a outros frequentadores do seu “estabelecimento” ainda antes das obras. Foi portanto mais esperta que Cruz, que se julgou sempre demasiado importante e intocável para vir a ser apanhado. Enganou-se. Carlos Cruz acabou por ser o “pato” que serviu lindamente para que gente mais sonante passasse despercebida.
Agora, porque o tapete lhe fugiu definitivamente debaixo dos pés, Cruz tenta arrastar consigo para o abismo o máximo de gente que lhe tinha prometido que nunca nada iria acontecer.
É tarde, muito tarde para todos. E, Cruz, sabe que, mais que uma sentença de prisão, está a “assinar” uma sentença de morte. Mas ele já não se importa. Quem já perdeu a dignidade não se importa com mais nada, muito menos com os outros.

Que fará correr Carlos Cruz ao ponto de criar um site para tentar demonstrar à opinião pública “toda a verdade” sobre algo que os seus advogados principescamente pagos não conseguiram durante 8 anos?
Que ganhará Carlos Cruz em ter a opinião pública do seu lado, ao invés do colectivo de juízes antes da decisão que foi tomada?
Que pecados cometeu Carlos Cruz para na recta final de todo o processo se ter desdobrado em tantas entrevistas misturadas com lamúrias e lágrimas que mais não eram do que de desgosto aos olhos de todos os portugueses?
HÁ UMA SÓ COISA QUE O FERE DE MORTE: A VERGONHA.
A vergonha que para sempre vai sentir daqueles que ele sabe que a partir de agora e para sempre sentirão vergonha de um dia o terem consagrado como “o senhor televisão”. A mesma vergonha que Carlos Cruz não teve enquanto no auge da sua carreira despejava uma garrafa de uísque por dia, mesmo durante o decorrer das gravações dos seus mais célebres programas. E, como bem se sabe, o álcool em excesso leva as pessoas a cometer actos jamais impensados, coisas que nunca se ousaria se a lucidez dominasse os sentidos.
Da mesma forma que a velocidade levava-o a estampar os últimos modelos de uma marca de carros importados directamente da Alemanha e a encomendar nos dias seguintes outros mais recentes ainda. O dinheiro em excesso também é bem capaz de atrofiar a sensatez de cada ser.
Parece-me demasiado estranho que mais do que um homem tenha tido a coragem de denunciar ter sido fisicamente abusado por outro homem e ainda por cima sujeitar-se à vergonha maior de dizer ao mundo o nome de um sujeito que o povo idolatra expondo-se dessa forma não unicamente ao transtorno que é aquela tomada de atitude como ainda a ficar vulnerável à gozação de toda uma sociedade que por Carlos Cruz poria as mãos no fogo. Só o verdadeiro rancor, enorme dor, agonia e puro ódio legitimamente sentidos por quem foi violado fariam com que um homem tomasse essa atitude.
Podem seguir-se todos os recursos possíveis e imaginários, que podem demorar todo o tempo do mundo, até mesmo ao incumprimento da pena agora atribuída, que de uma coisa eu tenho a certeza: NÃO VEREMOS NUNCA O DIA EM QUE UM PEDÓFILO SE DÊ COMO CULPADO DA PRÁTICA DO SEU CRIME.
Pedófilos são apanhados de duas maneiras: ou em flagrante delito ou por denúncia dos abusados.
Haveria também uma terceira e derradeira maneira de os capturar: “chibar” o nome ou os nomes daqueles que os acompanham ao encontro das crianças, mas como um pedófilo nunca tira a máscara pela vergonha que sente de si próprio, também nunca denunciará outro igual, pelo medo de ser desmascarado por vingança.

P.S.: São inúmeras as vezes que presumíveis autores de crimes são descaradamente absolvidos. E isso causa em todos nós uma forte revolta. Mal tal acontece apenas porque o juiz tem dúvidas, mesmo que seja uma pequena dúvida. Nenhum juiz corre riscos de sentenciar culpa a um homem que pode ser inocente.
Agora, qualquer um de nós que fosse juiz era capaz de emitir uma sentença de condenação a outra pessoa por um crime de abuso sexual de menores sem ter a perfeita consciência e certeza do que sucedeu?
Juiz é humano, também pode errar, é verdade, mas não é louco. Na dúvida, absolve.

Para reflectir!