MEU FILHO E AS MANHÃS



Hoje, pela manhã, como de costume, antes de sair para trabalhar, visitei o quarto do meu filho. É uma espécie de ritual para mim todas as manhãs. Chegar bem perto da sua cama, ajeitar o cobertor com cuidado, procurar arrumá-lo para que não fique destapado.
É algo mais forte que eu, embora não o queira acordar, passo por vezes as minhas mãos sobre os seus cabelos macios, e digo em pensamento: “Amo-te, filho!”
Ele normalmente, naqueles momentos, move-se com suavidade, como se reagisse de certa forma ao estímulo externo durante o sono. Mas continua ali, em silêncio, em paz, preparando o seu corpo e a sua cabeça para mais um dia de descobertas felizes.
Despeço-me, procurando não fazer ruídos, e saio, enfim, porta fora, com a alma mais leve, pronto para enfrentar mais um dia no mundo.
Da próxima vez que o vir, mais tarde, ele já estará bem desperto, a correr pela casa, a bincar com as suas coisas, e irá nesses momentos conceder-me mais uma alegria: a de receber o seu sorriso, que sem dizer nada, diz tudo.
Por mais que alguns dias possam ser difíceis, por mais que as batalhas sejam ferrenhas e desgastantes, tudo se acalma, tudo se conforta naquele sorriso.
Os sorrisos de criança têm um poder quase mágico, e os dos nossos filhos mais ainda. Eles parecem querer fazer-nos perceber que, por mais que a vida seja tormentosa, cheia de pequenos e grandes espinhos que provocam dor, muita alegria ainda existe. Por mais que neste exacto momento existam inúmeras pessoas desejando não viver mais, enfraquecendo nas lutas, a desejar desistir…existem outras tantas agradecendo pela vida, num júbilo contagiante.
E tenho a certeza de que “ser pai” é mais um desses motivos de alegria plena, de gratidão, e mais uma das muitas razões que temos para continuar sempre, sem desistir. O meu filho e as manhãs ensinam-me sempre esta preciosa lição - a da renovação.

Muitos pais queixam-se de não ter visto os filhos crescer. Passa tão rápido! Nem me consigo lembrar! – São expressões que ouvimos com frequência.
Pergunto: será que estamos mesmo atentos aos nossos filhos como deveríamos? Será que passa assim tão rápido, de modo a guardarmos tão poucas lembranças?
Das duas, uma: ou há alguma coisa errada com o tempo, ou há alguma coisa errada connosco.
Seria tão bom poder ouvir de um pai, de uma mãe: “lembro-me de cada nova conquista, de cada dia da infância, de cada nova palavra...”
Seria tão bom poder ouvir: “curti cada dia ao teu lado, meu filho, quando tu eras pequeno, como se fosse o último. Não perdi nenhuma oportunidade junto de ti.”

Aproveitemos então o tempo, junto deles, em qualquer idade, em qualquer condição de vida. Gozemos a existência ao seu lado, tomando nota, cá dentro de nós, de cada coisa boa, cada nova descoberta. Tiremos fotografias com o coração – registando, cá dentro de nós, cada sorriso do seu rosto.